quarta-feira, 16 de maio de 2012

CAPÍTULO IV
 
HOSPITAL PEDIÁTRICO DE COIMBRA


Há muito que não escrevo
Dizem que só escreve quem está infeliz
Deve ser verdade
Estou num mar negro de infelicidade
E nado, tenho de nadar e chegar a terra
Estou a ver a margem lá longe
Mas ela está lá
Por isso vou nadar e passar as vagas
A rebentação é tensa
Mas eu hei-de chegar a terra
E depois descansarei na areia
Mesmo que o mar me banhe os pés
Os meus braços não se cansarão
Estou certa disso e vou
Levar o meu filho até à margem
Ele correrá pela areia
Tenho de conseguir

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Que o vento me seja favorável
E que a coragem me sirva de vela
Nadarei, nadarei
A margem é já ali e eu vou chegar
Lá e porei o meu filho
A correr em terra firme
Nado, nadarei

Lígia Costa Martins

Hospital Pediátrico de Coimbra, Julho de 2004





ilustração por Inês

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