sexta-feira, 4 de maio de 2012

PREFÁCIO
por Dr. Emanuel Furtado
Responsável pelo Programa de Transplantação
Hepática Pediátrica nos H.U.C.
Lutar até Viver
é o testemunho impressionante do
percurso de luta pela vida, de uma criança, desde tenra idade,
gravemente doente. É o relato das venturas e desventuras de
quem passa meses no ambiente hospitalar, acompanhando um
filho com doença hepática terminal, com notável expressão
simultaneamente da realidade factual e do turbilhão de
sentimentos e pensamentos que a acompanham. A leitura do
texto coloca-nos dentro da história e faz-nos sentir
sucessivamente, o embate do diagnóstico e a percepção do
gradual, mas rápido, agravamento da doença; a brutalidade e
risco da única opção terapêutica e a agonia da espera por um
orgão; a complexidade da decisão de doar parte do próprio
fígado em vida e a surpresa de afinal não ser necessário fazê-lo;
a paragem do tempo no dia do transplante e a estranha alegria
que acompanha o regresso do bloco operatório, de uma criança
escondida no meio da parafernália de instrumentação; a alegria
do primeiro passeio no jardim do hospital e a da alta hospitalar;
a angústia que rodeia qualquer intercorrência e a repulsa que
causa qualquer perspectiva de novo internamento; as
modificações comportamentais que condicionam todos estes
acontecimentos na vida familiar e os receios pelo futuro;
13
É também uma reflexão breve e prática sobre aspectos
que importam à sociedade – doação de orgãos após a morte e em
vida, política de afectação de recursos à saúde, problemática da
negação de seguros a doentes crónicos ainda que com excelente
esperança de vida – na perspectiva de um pai com formação
jurídica e envolvido na actividade seguradora;
Admiravelmente enriquecido pelos textos, plenos de
sentimento, da mãe, e pelas gravuras das irmãs, Inês e Patrícia.
De leitura fácil, convirá, seguramente, a outros pais que,
por infortúnio da Natureza, hajam de passar por similar
provação, contribuindo para o seu esclarecimento e preparação,
mantendo sempre a esperança, dado o seu tom permanentemente
positivista.
Aos profissionais de saúde fornece a perspectiva de quem
está “do outro lado”, conhecimento imprescindível na procura
da melhoria dos cuidados que prestamos aos nossos pacientes.
Não sei se um agradecimento se enquadra formalmente
num “prefácio” mas não resisto a agradecer – e estou certo que a
mim se juntam muitos dos profissionais que cuidaram do
Vitinho, nas várias instituições por que passou – a recompensa
que nos ofereceu ao escrever:
“Quando o vemos no meio das brincadeiras com os
outros miúdos, o mais fantástico é que o Vitinho é efectivamente
uma criança que não se distingue das outras. Corre, joga
futebol, grita, é traquina e ninguém consegue perceber pelo que
passou.”
Coimbra, 08 de Outubro de 2009
Emanuel Furtado
14

Sem comentários:

Enviar um comentário